O evangelho
de João
O quarto
evangelho declara, de forma inequívoca, a finalidade do livro: "Jesus...
operou também... muitos outros sinais... Estes, porém, foram escritos para que
creais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida
em seu nome" (29:30, 31).
Desde o prólogo
(1:1-18) com sua frase culminante, "e vimos a sua glória"(vers. 14),
até à confissão de Tomé, no final, "Senhor meu, e Deus meu!" (20:28),
o leitor sente-se impulsionado constantemente a pôr-se de joelhos. O Senhor
Jesus destaca-se como algo mais que mero homem; em realidade, mais ainda que um
enviado sobrenatural ou representante da Deidade. Ele é o verdadeiro Deus que
veio em carne.
Todavia, o povo
hebreu, que esperava seu futuro redentor, necessitava de provas das afirmativas
de Jesus de que ele era o Messias prometido do Antigo Testamento. João
apresenta essas verificações. Milagres e discursos escolhidos de um período de
vinte dias no ministério público de Jesus, ministério que durou três anos,
confirmam-no dramaticamente como o Cristo, o Filho de Deus. Oito sinais ou
maravilhas revelam não só o seu poder, mas atestam sua glória como Portador
divino da graça redentora. Jesus é o grande "Eu sou", a única esperança
de uma raça que de outra sorte não teria esperança alguma. A água transforma-se
em vinho; os mercadores e os animais destinados aos sacrifícios são expulsos do
templo; o filho do nobre é curado à distância; o paralítico recebe cura no dia
de descanso; a multiplicação dos pães; Jesus anda sobre o mar; o cego de
nascença recebe a vista; Lázaro é ressuscitado. Estes milagres revelam quem é
Jesus Cristo e o que faz. Progressivamente, João apresenta-o como Fonte da nova
vida, a Água da vida e o Pão da vida. Por fim, seus próprios inimigos
retrocederam e caíram por terra ante o "Eu sou", que se entrega
voluntariamente para sofrer na cruz (18:5, 6).
Procurando
resgatar o homem do pecado e do juízo, e restaurá-lo à comunhão divina e santa,
o Logos eterno faz deste mundo sua residência transitória (1:14). Em virtude de
sua graça, o homem caído está capacitado para residir em Deus (14:20) e,
finalmente, nas mansões eternas (14:2, 3). Em sua própria pessoa Jesus cumpre o
significado das profecias e festas do Antigo Testamento. Por fim, triunfa sobre
a própria morte e o túmulo, e deixa a seus seguidores um legado extraordinário
para que levem avante esta missão de misericórdia, única na história.
Deslocando-se de
uma eternidade para outra, o quarto evangelho vincula o destino de judeus e
gentios como parte da criação toda à resurreição do Logos encarnado e
crucificado.
Autor:
Muito embora o
quarto evangelho não mencione de modo definitivo seu autor, não resta dúvida de
que foi João, o amado, quem o escreveu. Somente uma testemunha ocular, do
círculo íntimo dos seguidores do Senhor Jesus Cristo (compare 12:16; 13:29)
poderia proporcionar-nos determinados pormenores do livro. Além disso, o relato
especial e às vezes indireto da participação de João confirmaria sua paternidade
literária (1:37-40; 19:26; 20:2, 4, 8; 21:20, 23, 24). Exegetas conservadores
colocam sua data depois que foram escritos os outros evangelhos, portanto,
entre o ano 69 da nossa era (antes da queda de Jerusalém) e o ano 90.
-
Carl F. H. Henry
Doutor em Filosofia
e Letras
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